Palhaços Também Choram – releitura

Palhaços também choram

Apagaram-se as luzes. O sol curva-se a lua dando espaço aos luminares. O palco que dantes aspirava e inspirava risos insolitamente engolfa no alarmante silêncio. A tenda grandiosa criada para doar alegria, subitamente se esfria no crepúsculo, ao findar de outro dia, quando aplausos, sensações, humor e crianças dormem, é quando o artista rompe a alvorada, isolado no obscuro.

O raiar acarreta outro amargor. Ser o personagem, o mágico, a felicidade. A aflição de reinventar um Eu a cada novo espetáculo e de sucumbir após o encerramento, diante das cortinas que indicam o término da hilária e solitária dramaturgia.

É no exílio. Perdoe-me! No camarote. Que as manchas surgem. O borrão, a tinta, a máscara, o artista se purga em lágrimas e o espelho parece ofender, dizer, falar… Ofender, dizer, falar! Seu único desejo é tal liberdade, a simples humanidade de poder brigar, falar mal, gritar, gritar! Exausto dessa solidão mundana, reza estar sozinho de si mesmo, libertar-se do personagem, desprender-se, esvaziar-se, GRITAR, GRITAR!

Ah! Quão traumático é sorrir quando se precisa chorar, divertir quando se quer prantear, abraçar quando não mais goza o prazer de amar.

Contudo, amanhã as chamas do picadeiro serão ateadas novamente, todos virão de todos os quantos e assistirão ao espetáculo do artista. Cabe ao itinerante vestir o surrado “uniforme” colorido, a peruca, o nariz, o sapato… E pintar o rosto de branco, vermelho, palhaço… Fantasiar que a noite foi um surto, um acaso, uma alucinação, que não sente dor dos artistas de ao invés de viver… Interpretar!

Velho Marujo

7 comentários Adicione o seu

  1. TEJO disse:

    Excelente postagem, Velho Marujo.

    E bem-vindo de volta, a blogosfera não pode parar.

    Abraços do “clown”,
    Tejo

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  2. Velho Marujo disse:

    Valeu!!!

    Aos poucos… Me habituo novamente a esta rotina. Afinal…

    “a blogosfera não pode parar…”

    Abraços!

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  3. Sem sombras de dúvidas um dos melhores textos que já vi na vida, isso comparado a autores mestres e consagrados. Você tem um talento excepcional para a escrita. Uma crônica completa e perfeita, digna de grandes publicações e leitores assíduos.

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    1. Velho Marujo disse:

      Débora,

      Falta-me palavras para descrever minha alegria diante do seu comentário. a, é Simplesmente gratificante! Espero evoluir espiritualmente e tecnicamente, pois uma boa técnica, somada a um coração disposto a interpretar a si mesmo, e ao muno em sua volta, é a formula perfeita para criar.

      Muito obrigado!

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  4. Larissa disse:

    Cara, adorei, muito bom

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  5. Ronald Moura Sena Gomes disse:

    Suas crônicas seriam melhores se você optasse por uma escrita mais simples, capaz de aproximar com maior êxito o leitor daquilo que você sente e quer expressar.
    Tona-se, portanto, com sua escrita mais rebuscada, confuso saber o que você quis expressar. Chego ao fim de cada parágrafo sem saber o que você quis – realmente – dizer.

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