Carta à Oxum

Saudade de quando me acordava, para vê-la bailar no canto da casa. Tão menino, amedrontado, arregalava os pequeninos olhos quando ao levantar-me, naquelas noites, te observava no fundo da sala, de longos cabelos pretos, de um olhar negro, arrebatador, me encarava, sorria, brilhava como o ouro de Mansu Musa, inspirava riqueza como o Rei Leão do…

As Sanfonas de Santana

Os caminhões do Brasil descansavam de tantas idas e vindas e nossos boiadeiros do asfalto cruzavam os braços nas rodovias. Se antes eram bois e vacas, agora pastoreavam animais mais ferozes, de gigante porte, de um rugido vibrante e barulhento, movidos não por capim ou água, bebiam diesel como quem gosta de cerveja preta, bois…

Eucaliptos

— Licença, senhor! — Opá! —  Por favor, o senhor pode comprar uma caixinha de balas? É pra eu vender. Tô na rua e vendo as balas pra levantar um dinheiro. — Tranquilo! Quanto é a caixa? — É só 5 reais. — Tudo bem! Eu tenho trocado aqui. — Sem querer atrapalhar o senhor,…

Paisagens

Mês de maio. Inverno… A gélida paisagem deveras parece tão somente ilustrar. Pálida, inerte, fosca. Estampada em cinza, preto, moscas. Entre trancos, bancos, barrancos, barracos. Parece não mais afrontar ou quiçá confrontar, não! São canecas, cachorros e cobertores, sem talheres, um bocado de homens, mulheres, idosos, jovens, crianças… Odores! E são tantas dores! Mazelas compartilhadas…

O Faxineiro

O macacão azul anil parecia falar… o olhar fitado no chão, voz tremula e cansada a resmungar, mãos calejadas, pele escura, preta. A cabeça raspada não deixava transparecer os fios brancos, os pés rachados – imagino eu – calçados pelos velhos sapatos pretos, os mesmos que devem o acompanhar a tantos dias, amigos inconfidentes, seu…

O menino

  Ainda te vejo com a pipa, joelhos barrentos, roupa suja de terra vermelha e cotovelos arranhados de tanto se jogar no chão. Ainda vejo o menino, pretinho, cabelo crespo, estilo black, um moleque que corria pela Sebastião Martins, descia as ribanceiras a brincar de desbravar o mato e tinha na casa de tijolos mal acabados construída sobre…

Bonecos de cera

O ar abafado, o fardo, clima descontrolado por aqueles que julgam ter o controle. O calor do inverno, o vento frio da primavera, outono indeterminado, o sol. Cidade fria em meio a um meio ambiente aquecido, o frio interno dos esquecidos, a massa de ar polar que vem do pólo dos corações. Tudo em contraste…

O Ultimo que Morrer. Apague a Luz!

Apague a luz, o ultimo a partir, o ultimo a embarcar no navio das almas, ao mar dos eternos navegantes, aos afluentes da despedida. Apague, o ultimo dos marujos, o errante, que dantes respirava que, dantes aspirava vida, que jaz o inferno de Dante. Apague, a pequena chama que esperançava seus sonhos, todos seus sonhos,…